sábado, 5 de dezembro de 2009

Amar no pretérito

É gozado a capacidade humana de considerar outro ser humano sua própria vida. É gozado, mas isso se chama amor. Mas esse sentimento provoca algumas conseqüências quando a pessoa, dita sua vida, vai embora de você. Quando vai embora para sempre.
ㅤAh, como eu sinto sua falta. Sinto falta de toda minha vida, e só ao te perder para os braços da morte eu percebi que essa vida se resumia a você.
ㅤSinto falta dos nosso belos anos juntos. Sinto falta do modo que o sol batia nas suas bochechas rosadas, no verão. Sinto falta do barulho de seus pés pisando nas folhas secas, no outono. Sinto falta do vento frio bagunçando seus cabelos, no inverno. Sinto falta das flores cor-de-rosa em suas mãos, na primavera.
ㅤÉ como se eu ainda te amasse com a mesma intensidade apaixonada de antes. Como é possível? Amar o invisível, amar o perdido, amar no pretérito.
ㅤSuportando essa dor, eu estou a vinte e quatro anos. Agora eu envelheci, o peso da idade está caindo sobre minhas costas, enquanto eu me lembro de você jovem, linda.
ㅤÉ como se você tivesse eternamente trinta anos, já eu hoje estou com cinqüenta e quatro. O tempo passou para mim. Que injusto. Não nos deixou envelhecer juntos, como havíamos sonhado tantas vezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário